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segunda-feira, 16 de julho de 2012

Vai chegar o dia

Vai chegar o dia em que essas pequenas coisas não vão mais me incomodar.
Vai chegar o dia em que eu vou conseguir ver só o lado bom das pessoas. Ou, pelo menos, aprender a não me apegar tanto ao ruim.
Vai chegar o dia em que eu vou aprender, finalmente, a fazer apenas o que me cabe. E deixar que cada um exploda, bem longe, com suas obrigações, omissões e irresponsabilidades.
Vai chegar o dia em que eu vou revidar agressões com sorrisos. E seguir em frente.
Vai chegar o dia em que a minha felicidade vai contagiar vocês. Ah, vai...
Vai chegar esse dia. Um dia...
Por hoje, eu só tenho o amanhã.
E “ontens” tristes.



Não vamos ser amigos!

Nós não éramos amigos antes de namorar. Nós fomos na-mo-ra-dos. Se acabou o namoro, acabou tudo. Não me ligue, não me diga oi, não me dê parabéns no meu aniversário. Voltamos à estaca zero. Não te conheço nem quero conhecer. Não quero você nem no meu Facebook!Foi assim que terminou o meu último namoro. Parece trágico e meio exagerado, eu sei, mas não é. Eu sabia que teria que ser assim. Nós já havíamos terminado outras vezes, mas estudávamos juntos, nos víamos todos os dias... não tinha como manter a separação. E quem já brigou e voltou sabe: depois do segundo término, ninguém respeita mais ninguém. Nós precisávamos de um fim definitivo, algo que rompesse aquele vínculo de uma vez por todas. Não dá pra conviver diariamente com ex sem pensar sempre em como seria se vocês ainda estivessem juntos...

Eu não sei dançar tão devagar pra te acompanhar


“Eu não sei dançar tão devagar pra te acompanhar”, ela diz. E eu repito, sorrindo um sorriso molhado, como quem não quer mais chorar. Não há, mesmo, motivo para tanto. Mas dói - um pouquinho.“Eu não sei dançar tão devagar” e acho que nunca vou saber. Não é você, sou eu – e, aqui, nem é desculpa pra terminar nada. Sou eu mesmo, o problema é comigo. Eu não tenho tempo. Não sei “dar tempo ao tempo”, não sei “ir devagar”, não sei “esperar”. Na verdade, eu não sei nem deixar as coisas acontecerem. Não sei, nem quero saber. Eu tenho pressa. É uma sede, uma angústia, uma urgência... Como se eu tivesse certa pressa pra viver, enquanto lamento, em silêncio e por escrito, o fato de a vida passar, lenta e vazia, por baixo dessa janela fechada. Eu quero viver logo, porque não me sinto vivo ainda.
“Eu não sei dançar tão devagar pra te acompanhar”. Desculpe a correria. Não leve a mal esse trote, a falta de ritmo... meus pés em descompasso que seguiram e seguem abrindo caminho pelo salão. “Eu não sei dançar tão devagar pra te acompanhar”. É magnético, involuntário e inevitável. Eu corro. “Eu não sei dançar tão devagar pra te acompanhar”. Eu não entro no ritmo, não sigo a contagem, quase não respiro... “Eu não sei dançar tão devagar pra te acompanhar”. Eu danço sozinho...




quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Natimorto

Hoje, eu encontrei aquele coração de nota fiscal. Aquilo foi em 2008, não foi? Comecinho de 2009, no máximo. Estávamos em uma pizzaria com os seus amigos. Eles não sabiam que nós éramos um casal – você e seus problemas! – e, de alguma forma, o assunto na mesa caminhou para algo perto das “vantagens” de ser solteiro. Tema que você parecia dominar perfeitamente, haja vista a elaboração do seu discurso.Não disfarcei o incômodo, todo mundo fingiu não me ver e, de repente, você me chamou por baixo da mesa. Jogou algo no meu colo e, já bastante bravo, eu ignorei.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Tentando amar

Eu quis amar, mas tive medo
E quis salvar meu coração
Mas o amor sabe um segredo
O medo pode matar o seu coração
Água de beber
Água de beber camará
Água de beber
Água de beber camará
Eu nunca fiz coisa tão certa
Entrei pra escola do perdão
A minha casa vive aberta
Abri todas as portas do coração
Água de beber
Água de beber camará
Água de beber
Água de beber camará
Eu sempre tive uma certeza
Que só me deu desilusão
É que o amor é uma tristeza
Muita mágoa demais para um coração
Água de beber
Água de beber camará
Água de beber
Água de beber camará

(Água de beber, Tom Jobim)

Um hipocondríaco inconseqüente

É que eu estava num daqueles momentos da vida em que tudo te irrita, que tudo faz pressão e você acha que pode explodir a qualquer momento, sabe? E nesse mundo louco de hipocondríacos, onde se cura desde dor de cabeça até solidão com remédios, fui intuitivamente para a farmácia. Achando que o problema era sério, fui até a estante daqueles remédios perigosos de tão forte. Aquelas listras pretas em fundos brancos já me deixaram deprimido. Faltava uma cor, uma alegria... Peguei o que me pareceu ser mais forte e fui embora. Se eu fosse inteligente, teria me lembrado das propagandas do governo federal e teria lido a bula, mas tomei metade da caixa sem nem pensar duas vezes. Foi então que tudo começou.
Eu conheci uma pessoa que me fez acreditar que estaria comigo para sempre. Eu não estava no meu estado normal, o remédio havia dado algum efeito. Só sei que acreditei nas palavras de cordeiro daquela fera. Ela me jurou palavras bonitas, me mostrou lugares encantados, cantou músicas suaves, me acariciava com toda delicadeza, como a um bebê. Eu fui hipnotizado, estava embevecido por aquele cheiro.
Decidimos então que seríamos uma só pessoa. A partir daí nunca mais fomos vistos como dois, e sim como um. Era lindo, duas pessoas em um só corpo. As pessoas olhavam e sentiam até inveja, eu bem sei.
Mas agora, o que eu não daria para não ter feito isso. Aquela feiticeira me enganou. Enquanto éramos um, dei tudo que era meu. Nada ficou pra mim, dei tudo, fiz dela mais de mim do que eu próprio sou. Ainda drogado pelo remédio, acreditei que ela fizera o mesmo. Não fizera. E como as ervas daninhas que crescem, se amontoam, cercam e sugam toda a vivacidade das plantas mais belas, ela se aninhou em mim e me levou tudo. Sorrateiramente, ela levou minha cor, meu sorriso, minha fome, minha sede, minha sagacidade, minha pele. Deixou-me em carne viva, músculo vermelho à tona, ossos expostos, coração frágil, contorcido. Até meu oxigênio ela tomou.
Quando achou que já era de bom tom, ela foi embora, desfez a unidade de dois. E foi tudo tão rápido, tão de repente, tão inesperado, que nem tive tempo de tentar recuperar o que era meu. Ela deixou todo meu corpo dissolvido, uma massa suja e velha, um peito sôfrego. A cabeça sempre a doer, sem dormir jamais. Um estado de subvida.
Hoje só uma cosia me matem vivo. Todos os dias compro, e às vezes roubo, aquele remédio na farmácia. Eu não queria, mas é a única coisa que ainda me dá forças, senão nem estaria mais vivo. Tornei-me um dependente, sei disso. Mas só quem não tem mais nada a perder pode se dar ao luxo de se viciar. Se eu pudesse, juro que mudaria tudo. Nunca teria tomado aqueles comprimidos e assim nunca teria perdido o que sou. Ou o que eu era. Se eu tivesse lido a bula... Se eu tivesse lido, jamais teria me viciado e saberia as conseqüências... Deus, como eu odeio a droga do amor.

domingo, 28 de setembro de 2008

Peripécias do amor

- Eu não consigo amar espelho, entende?
- Sei... Por isso me quer?
- É! Você é tão distante do que eu quero
- Você também pra mim, mas o que fazer?
- Sei lá...

- A gente se ama?
- Eu acho que só estamos aqui conversando assim porque amo
- É, eu também...

- Então, você quer tentar ser feliz comigo?
- Eu já sou feliz contigo
- Mas então porque estamos aqui nessa conversa?
- Porque amar é complicado
- Devia ser simples
- Você devia perceber mais
- Você devia ser mais ativo
- Você devia ser menos explosivo
- E você menos inerte

- Eu te amo
- Eu também

- Lindo
- Feio

O homem que amou Rita

A Rita levou meu sorriso
No sorriso dela
Meu assunto
Levou junto com ela
O que me é de direito
E Arrancou-me do peito
E tem mais
Levou seu retrato, seu trapo, seu prato
Que papel!
Uma imagem de são Francisco
E um bom disco de Noel

A Rita matou nosso amor
De vingança
Nem herança deixou
Não levou um tostão
Porque não tinha não
Mas causou perdas e danos
Levou os meus planos
Meus pobres enganos
Os meus vinte anos
O meu coração
E além de tudo
Me deixou mudo
Um violão